TheLisiantho
O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.
Mário Quintana
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Me gustas cuando callas
Gosto quando te calas
Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.
Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.
Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
Pablo Neruda
segunda-feira, 29 de março de 2010
O CORVO, EDGAR ALLAN POE
(tradução de Fernando Pessoa)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
“É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais”.
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
“Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi…” E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
“Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.”
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
“É o vento, e nada mais.”
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome “Nunca mais”.
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, “Amigo, sonhos – mortais
Todos – todos já se foram. Amanhão também te vais”.
Disse o corvo, “Nunca mais”.
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
“Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
Era este “Nunca mais”.
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele “Nunca mais”.
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Édem de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!”, eu disse. “Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!
sábado, 13 de março de 2010
O que seu corpo diz sobre você
Se você quer que o seu chefe grite "Promoção já!", é melhor ficar atenta ao modo como balança os braços, faz clique-clique com a caneta, estala os dedos ou senta-se em sua cadeira. Essa linguagem não-verbal faz parte de todas as situações no local de trabalho. Mais do que isso: ela é fundamental para o seu sucesso. Você já deve ter ouvido falar que três segundos é o tempo que levamos para formar opinião sobre alguém, não é? Pois 55% do impacto das mensagens comunicadas vem dos gestos que fazemos. Por isso, antes de mover um músculo, da cabeça aos pés, leia o que a ex-modelo que já foi professora de passarela de Naomi Campbell, hoje especialista em linguagem corporal e cultura empresarial, Judi James, explica em seu livro Linguagem Corporal no Trabalho (Best Seller). Dá para usar o que ela ensina na sua autopromoção, na hora de interpretar e entender a chefia e a concorrência - e até para dominar reuniões. Interessada?
Rosto de vencedora
O primeiro passo, segundo Judi James, é dar adeus à expressão "protetor de tela". Sabe aquela cara que você faz quando está distraída em sua mesa ou em um evento? Para descobrir como se parece, pense no seu rosto quando faz uma pausa para o café. Se ele fosse uma camiseta com uma frase escrita, qual seria? "Olá, seja bem-vindo" ou "Vá embora, quero ficar sozinha"? Seu olhar mostra confiança, arrogância ou passividade? "O ideal é exibir sempre um sorriso expressado pelos olhos e um ar sedutor e confiante", ensina a expert. Como consegui-lo? Imagine-se na pele de Anne Hathaway depois que ela dispensou o diabo que vestia Prada... Lembrar-se de situações em que se deu bem também ajuda a transparecer esse espírito de vencedora.
Postura de campeã
Judi James propõe um checklist das duas posições em que mais ficamos ao longo do dia.
Em pé
Para alinhar a postura e parecer disposta e responsável mesmo em sua mesa, alongue a coluna fazendo um arco para trás e, depois, relaxe-a. Uma boa rotação de ombros também ajuda. Outra tática é distribuir o peso em ambas as nádegas e pousar os pés delicadamente sobre o chão, levemente separados.
Quando você menos espera, pode ter alguém da diretoria de olho em você. Por isso, tome cuidado com estes gestos, capazes de destruir a imagem de uma vencedora. "Inspecionar unhas ou balançar bijuterias dão impressão de agonia, nervosismo, preocupação ou tentativa de encobrir um erro", diz Judi. O mesmo vale para movimentos que denunciam stress, como levantar os ombros, piscar demais, manter os punhos fechados, ficar de sobrancelhas suspensas.Toda atenção é pouca na hora de decidir onde colocar as mãos. "Tocar o cabelo a faz parecer infantil e imatura." Já roçar nas orelhas pode dar a impressão de que está mentindo. Opa! E ainda: colocar as mãos no pescoço demonstra nervosismo. Na nuca, ansiedade. "Algumas mulheres falam com os braços, dos ombros aos cotovelos, grudados ao longo do corpo. Isso mostra necessidade de ser aceita, péssima mensagem para passar no ambiente profissional, certo?", alerta ela. Já descansá-la sobre a mesa ou ao longo do tronco passa a segurança que deseja.
Jeito de líder
Essa característica tão magnética pode ser sua, sim! Basta apostar no mix andar suave e com algum objetivo aliado a cabeça erguida. "O olhar nivelado é o melhor", assegura Judi James. Mostra equilíbrio e autoconfiança. E ainda alerta: não caia na armadilha de carregar muitas coisas. "Elas jamais devem comprometer sua postura ou seus gestos." Os membros da família real inglesa, por exemplo, nunca foram vistos levando laptop, pastas, celular, maxibolsa, sanduíche, óculos de sol e uma garrafinha de iogurte, tudo isso junto, concorda?
Para se destacar dentro da equipe, Judi aconselha que você invista na arte de escutar. Como ser toda ouvidos? Primeiro, melhor resistir à tentação de, na pressa, continuar respondendo a e-mails ao conversar com alguém. Virar-se para quem está falando e olhá-lo o tempo todo a faz ganhar pontos. Se quiser demonstrar mais interesse, vale se inclinar e concordar com a cabeça, levantar a sobrancelha e manter silêncio. "Cuidado: sentar-se com braços cruzados e olhos voltados para o chão pode ofender o interlocutor. Checar o relógio, bocejar ou mexer em papéis enquanto o outro estiver falando também está proibido. Ou ainda cruzar as pernas e manter a de cima balançando, o que indica impaciência, como se quisesse se ver livre da pessoa com quem está", diz Judi. Além de observar a sua linguagem corporal, vale ficar atenta também à do outro para saber se não está sendo enrolada. "Alguns indícios, como lamber os lábios, tocar o nariz, coçar a orelha ou a nuca, arregalar os olhos ou desviar o olhar para o lado superior direito, acessando a parte criativa do cérebro, indicam falta de sinceridade."
Estrela das reuniões
Fonte: Revista Nova Cosmopolitan (Texto Karina Hollo / Foto Sérgio de Divitiis)
sexta-feira, 12 de março de 2010
O segredo do casal feliz: compartilhar alegrias
É possível que a forma de um casal lidar com as boas notícias seja ainda mais relevante para a o convívio que a capacidade de se apoiar mutuamente nas circunstâncias difíceis. Proporcionalmente, pessoas felizes com sua vida amorosa também experimentam individualmente mais emoções agradáveis que negativas, em comparação com aquelas envolvidas em relacionamentos fracassados. Certas estratégias costumam melhorar essa proporção e, portanto, ajudar a fortalecer as relações. Outro ingrediente para um relacionamento de sucesso: cultivar a paixão. Aprender a se dedicar à pessoa afetivamente importante em nossa vida, de forma saudável e prazerosa, favorece o amadurecimento emocional.
O que a ciência tem a dizer sobre a intimidade:
1. Excitação. O psicólogo Arthur Aron, da Universidade Stony Brook, descobriu que as pessoas tendem a se ligar emocionalmente quando estão agitadas, por exemplo, devido ao exercício, aventuras ou exposição a situações perigosas.
2. Bem pertinho. Estudos dos psicólogos sociais Leon Festinger e Robert Zajonc, da Universidade Stanford, concluíram que simplesmente estar perto de alguém tende a produzir sentimentos positivos. Quando uma pessoa, de forma consciente e proposital, permite que a outra invada seu espaço pessoal, os sentimentos de intimidade aumentam rapidamente. Talvez por isso seja mais fácil brigar por telefone do que quando estamos
fisicamente próximos.
3. Semelhança. Opostos às vezes se atraem, mas uma pesquisa coordenada pelo economista comportamental Dan Ariely, da Universidade Duke e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT ), mostra que as pessoas tendem a formar par com aqueles que são parecidos com elas – em termos de inteligência, experiência e nível cultural e atratividade. Algumas pesquisas chegam a sugerir que apenas imitar alguém pode aumentar a proximidade.
4. Humor. Os pesquisadores Jeanette e Robert Lauer, especializados em relações amorosas, mostraram em 1986 que em uniões felizes de longa duração os parceiros fazem o outro rir bastante. Outro estudo revela que principalmente as mulheres frequentemente procuram parceiros que as divirtam e vê-las achar graça é atraente para eles – possivelmente porque quando rimos ficamos em uma posição menos defensiva, o que facilita a aproximação. Conhece algumas boas piadas?
5. Novidade. O psicólogo Greg Strong, da Universidade Estadual da Flórida, constatou que as pessoas tendem a se aproximar quando estão iniciando uma nova tarefa. A novidade apura os sentidos e também faz as pessoas se sentirem vulneráveis e se ajudarem mutuamente. Portanto, aprender coisas juntos é um jeito de fortalecer laços.
6. Inibições. Milhões de relacionamentos provavelmente começaram com uma taça de vinho. A inibição bloqueia as sensações de vulnerabilidade, o que pode de fato ajudar a criar vínculos. Ficar bêbado, no entanto, pode surtir efeito contrário.
7. Bondade e perdão. Vários estudos confirmam que tendemos a criar laços com pessoas bondosas, sensíveis e atenciosas. Sentimentos de amor podem emergir com especial rapidez quando alguém muda de comportamento deliberadamente – por exemplo, desistindo de fumar ou de beber – para se adaptar às nossas necessidades. Em geral, o perdão também cria vínculos e cumplicidade.
8. Toque e sexualidade. Uma massagem nas costas pode fazer maravilhas. Mesmo se aproximar de alguém, sem de fato tocar, pode despertar em ambos inúmeras sensações. Vários estudos, um deles realizado pela psicóloga social Susan Sprecher, da Universidade Estadual de Illinois, aponta que a sexualidade pode reafirmar sentimentos de proximidade e carinho.
9. Comprometimento. Estudos de pesquisadores como a psicóloga Ximena Arriaga, da Universidade de Purdue, sugerem que o compromisso é um elemento essencial na construção do amor. Pessoas cujos comprometimentos são fracos interpretam o comportamento de seus parceiros mais negativamente, o que com o tempo pode destruir a relação. Quando se tem a firme intenção de manter o relacionamento, os problemas conjugais são mais facilmente relativizados. Pesquisas científicas ilustram como as pessoas se apaixonam e sugerem técnicas para construir relacionamentos consistentes.
Fonte: revista Mente&Cérebro, nº206, de fevereiro
segunda-feira, 8 de março de 2010
Anais Nin
..."Conheci outros anjos sexuais.
É maravilhoso ver a mudança que se dá neles.
Aqueles olhos límpidos e transparentes, aqueles corpos que compõem poses tão harmoniosas, aquelas mãos delicadas...como mudam quando o desejo se apodera deles!
Os anjos sexuais!
São maravilhosos por ser uma surpresa tão grande, uma mudança tão forte.
Você por exemplo, com esse ar de quem nunca foi tocada, imagino-a a morder e a arranhar.
Tenho a certeza de que até a sua voz se altera.
Já vi mudanças assim.
Há mulheres com vozes que parecem ecos poéticos de outro mundo.
Depois mudam.
Os olhos mudam.
Acho que todas essas lendas sobre pessoas que se transformam em animais à noite - como histórias de lobisomens, por exemplo- foram inventadas por homens que viram mulheres transformarem-se à noite, deixarem de ser criaturas idealizadas e veneradas e tornarem-se animais, e pensaram que elas estavam possessas."
Anais Nin em "Passarinhos"